Introspecção...
Preciso ficar a sós comigo
Preciso ficar a sós comigo
tocar meus seios, olhar o meu umbigo
sentir o pulsar do coração…
Atenta, no silêncio escutar a mestria dos órgãos
e nas veias, o sangue a alimentar
o ritmo da vida…
Preciso medir meu campo de visão
percepcionar a mente, o raciocínio, a sensação
a transcendência dum orgasmo a me tomar…
Mirar no gesto a tela que pinta a minha mão
quando em labor ou em acto de paixão
ou quando simplesmente posta a orar…
Sentir o peso de meus pés a interligar-me
à terra-mãe, ao pó, princípio e fim
Em tudo o que vibra e canta ao meu ouvido
em tudo o que estremece o meu sentido
entendo o poder da Criação
Ânima, sopro divino, vibração e harmonia
o clarim de Deus soando em mim em sincronia!
Na introspecção percebo o milagre e a beleza
do ser que se irmana ao pulsar da Natureza
e que a segue, a par, nas estações que se sucedem…
Os primaveris e verdes anos
a rubra e sensual pujança do verão
nos ocres outonais… a rendição
e na estação final… o branco, a invernia
da planta envelhecida, estéril de cor, que em letargia
prepara a gravidez de nova flor
Preciso olhar o espelho sem gesto que esmoreça
sem sensação de perda ou retrocesso
e lúcida, serena, apelar ao siso
encontrar o meu suporte
vislumbrando dessa imagem o reverso…
Do outro lado do espelho há vida, há recomeço
em prosa e verso, em choro e riso…
Há outro despertar pra um mundo ainda imerso
em novas cores, novos rumos, novos céus
e em mim… de novo há-de soar o clarim de Deus!
Soprando ao meu ouvido um Universo
onde não há morte
onde nada é perdido, tudo é mutação
e vida renovada em transição!
Carmo Vasconcelos