Estamos ambos de pé,
estamos ambos nus,
diante do enorme espelho aí à largura dessa parede:
e todo eu me escondo atrás do seu corpo,
assim lhe mostrando como só o seu corpo ali merece reflectir-se.
Acaricio-lhe e sopeso-lhe os seios,
ora um ora outro, na palma da minha mão direita,
enquanto com os dedos da mão esquerda lhe modelo o pescoço,
o ombro, o flanco, o ventre,
o deslumbrante nascimento das coxas (…).
Mas os seus olhos apenas espiam,
na superfície do espelho, o reflexo
do meu rosto semi oculto.
David Mourão-Ferreira