sabato

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece
De balas trespassado.
Duas de lado a lado
Jaz morto e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos
Alvo, louro, exangue
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho unico a mãe lhe dera
um nome e o mantivera
"O menino de sua mãe"

Caia-lhe da algibeira a cigarreira breve
Dera-lhe a mãe está inteira
E boa a cigarreira
Ele é que já não serve.

De outra algibeira alada
Ponta a roçar o solo
A brancura embainhada
De um lenço...Deu-lhe a criada
Velha que o trouxe ao colo

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo e bem!"
(Malhas que o império tece!)
Jaz morto e apodrece

O menino de sua mãe.

Fernando Pessoa