venerdì

:: Ardo...




Ardo de desejo
pelo cair da tarde
quando o cheiro das laranjeiras
descai no ventre da encosta.
é o tempo da entrega
da convulsão do ventre
do arrepio das veias
...deito-te todo inteiro
na margem da levada
que é o meu corpo aberto
à tua espera.
Maria Aurora Carvalho Homem

:: O ar que respiras...


Saco
de as nuvens que te poisam nos cabelos,
Saco de as aves que te levam o olhar.
Saco de os sonhos
mais pesados do que as pedras.
Porque eu cheguei e é tempo de me veres,
Mesmo que os meus gestos te trespassem
De solidão e tu caias em poeira,
Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras
E os teus olhos nunca mais possam olhar.
Sophia de Mello Breyner Andresen

:: Kurt Kauper...



:: Eu...






E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor
sentido,
E o meu passado foi como
uma estrada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é tôda humana.

Fernando Pessoa


giovedì

:: Leio o Amor...

Leio o amor no livro

da tua pele;

demoro-me em cada

sílaba, no sulco macio

das vogais, num breve obstáculo

de consoantes,

em que os meus dedos penetram,

até chegarem

ao fundo dos sentidos.

Desfolho

as páginas que o teu desejo me abre,

ouvindo o murmúrio de um roçar

de palavras que se juntam,

como corpos, no abraço de cada frase.

E chego ao fim

para voltar ao princípio, decorando

o que já sei, e é sempre novo

quando o leio na tua pele.

Nuno Júdice

:: Alguém..



Alguém pode me dizer
se estava prevista
na palma da minha mão
esta paixão inesperadas
e estava já escrita e demarcada
na linha da minha vida
se fazia já parte da estrada
e tinha que ser vivida
ou foi um desgoverno repentino
que surpreendeu os deuses,
todos os que desenham
o nosso destino
ou foi um desatino, uma loucura
uma imprevisível subversão
que só a partir de agora
eu trago
marcada na palma da minha mão
Bruna Lombardi

:: Acende...


Acende uma vela

:: Amantes...




Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido
.Dois amantes que são?
Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar:
e não percebem quanto se pulverizam
no enlaçar-se,e como o que era mundo
volve a nada.
Nada, ninguém.
Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobras
e imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir mas o existido
continua a doer eternamente.
Carlos Drummond de Andrade

:: Amor...


Amor é privilégio de maduros

estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,que,
decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida.
Amor começa tarde.
Carlos Drummond de Andrade

:: Savchenko Julia (Sava)...


:: Saber...

Não: é só saber
o que de ti afastas,
quando a noite implausível
te chama e te reduz.
É só ousares, de ti,
a pálida renúncia, a súbita agonia
em que afogas
o esplendor do dia,
o outro lado do querer,
estar, sentir ou adiar.
Não: nem olhar no vento,
perdido ou encerrado,
nem o esboço de um dedo
que se encaminha para ti.
Nem dor de amar,
nem vergonha de pedir
o que sem sequer pedires
te é dado, ou, antes,
o que de ti for procurado
na curva que antecede
o teu primeiro não.
António Mega Ferreira

:: No Dia dos Namorados... Um Coração de Pessoas...


Fotografía de Carli Hermes

mercoledì

:: Quando...



Quando o meu corpo
diz "aqui"
que mão acaricia onde?
O eu está inteiro
dentro de "nós"?
Acaricias o meu pulso
com palavras
que saem do coração da mão,
em cada poro dizem
"aqui"pois é esta
a linguagem do amor.
As suas letras voam
para a nossa voz
que sobe da cintura
até ao ombro
do teu corpo
feito das palavras
com que encontro (na mão)
o coração.
Rosa Alice Branco


:: Nos teus olhos...


Um anjo erra
nos teus olhos diurnos
humedecido do véu
(ao fundo, a íris entardece)
seguiu de cor a revoada das pombas
místico um arroubo ascende a prumo
do plano em que me fitas
cisnes desaguam
do teu olhar em fio
e vogam ao redor, pelo estuário da sala
ao sol-poente os vitrais das janelas
ardem na catedral assim erguida
colocamos um sonho
em cada nicho e no círculo formado
pelas nossas bocas
subentende-se com verve a língua.
Sebastião Alba

:: Cymagem...











Fotografia emCYMAGEM

:: Paco Peregrin...



Fotografia em Paco Peregrín .

lunedì

:: Canção...












Canção da Alta Noite


Alta noite, lua quieta,




muros frios, praia rasa.

Andar, andar que um poeta




não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.




O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,




não necessita de sono.

Andar...




Perder o seu passo




na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,




nem necessita de vida.

Andar...




- enquanto consente




Deus que seja a noite andada.

Porque o poeta, indiferente,




andar por andar




- somente.




Não necessita de nada.




Cecilia Meirelles

:: Fotografia Weareadventurers...




Fotografia em WEAREADVENTURERS

:: Nick Kosciuk...










Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos nocturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
ate' não se sabe quando...

- e um dia me acabarei.

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.
Cecilia Meirelles




domenica

:: Megan Tilley...




Mais em MEGAN TILLEY

:: Voltarei mais Tarde!!!...












Viver sem Amor não é viver, é apenas existir!...

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