venerdì

:: Flor para quem me Visita!!! Voltarei mais Tarde!!!...




... o que resta das manhãs que deixaste
à cabeceira do meu corpo
ficará entregue às tuas mãos...
Alice Vieira

:: Ergo...










Ergo a catedral das pernas


e celebro a explosão das pétalas.


Ah, como desejaria saber da água que as inunda


e da seiva que as fortalece!


Ergo a catedral das pernas


e há uma construção inacabada


aí onde se erguem as naves


deste altar de loucura


em que me prostro.


Ergo a catedral das pernas


e deixo estilhaçar os vitrais.


E embora ardendo na morte rubra do desejo


rendo-me à cegueira iluminada que perpassa


para além desta embriaguez das palavras


proferidas ou silenciadas.


Bernardete Costa




Faz do sangue a morada das tuas noites
e nada será tão verdadeiro
como o lume da pele com que te dispoe
o que resta das manhãs que deixaste
à cabeceira do meu corpo
ficará entregue às tuas mãos de terra
onde tudo pode a seu tempo germinar
mas há sempre uma noite em que tudo
magoa assustadoramente
mesmo que na escada o som dos teus passos
se prolongue em todos os corredores
das minhas mãose já não posso adiar por mais tempo
as palavras que sempre soube terem
um prazo secreto de validade
para nos ferirem de morte
então deixa que a minha boca desfaça no teu corpo
os caminhos da casa a que um dia
vais querer voltar
porque terás sempre o meu nome
a rebentar das tuas veias
e hás-de esquecer entre os dentes
a areia que media o tempo das esperas
vermelho e leve como as romãs de novembro
e muito mais tarde alguém te vai pedir amor
como se fosse um fruto fora de época
ou o cheiro a incenso de um domingo de província
e tu não vais ter nada para dar
porque tudo o que havia eu já levei comigo
entre os cigarros / os retratos / a roupa amarrotada
mas ouve não abras ainda a porta
restam-me alguns segundos para ensinar
à memória que vais ter de mim
como adormecer na curva das madrugadas
- para que um dia ela consiga perceber
que é assim que tudo acaba
Alice Vieira

:: Michael Cheval...


giovedì

:: Gina Litherland...



Mais em Gina Litherland

:: Roberto Roseano...

:: Roberto Roseano...



Roberto Roseano [Link]

Em ti não busco mais do que pensar-te:

tenho a bruma e a luz que haja nela,

Olhar o lume em ti ou numa vela

é ter do seu calor a melhor parte

em que nisso não somos mais que nós

pra ser a chama grés, desfigurada

,em que a dual presença não é nada

senão a morte, pois, perante, após.

Assim te olho, amor, e só pressinto

crescer em ti o acto de te seres.

Nada procuro mais que tu saberes

que por ser a teu lado não te minto,

minha mesa, meu pão e meu absinto:

que tu longe de ti é que me feres.

Pedro Tamen

:: Mala Chloé...













Que eu Gosto!!!


:: Sandálias Jimmy Choo...









Que eu Gosto!!!

martedì

:: Rina H...






Mais em Rina H.

:: Aqueles...






Aqueles olhos aproximam-se e passam.

Perplexos, cheios de funda luz,

doces e acerados, dominam-me.

Quem os diria tão ousados?

Tão humildes e tão imperiosos,tão obstinados!

Como estão próximos os nossos ombros!

Defrontam-se e furtam-se,negam toda a sua coragem.

De vez em quando,esta minha mão,

que é uma espada e não defende nada,

move-se na órbita daqueles olhos,

fere-lhes a rota curta,Poderosa e plácida.

Amor, tão chão de Amor

Que sensível és...

Sensível e violento, apaixonado.

Tão carregado de desejos!

Acalmas e redobras

e de ti renasces a toda a hora.

Cordeiro que se encabrita e enfurece

e logo recai na branda impotência.

Canseira eterna!

Ou desespero, ou medo.

Fuga doida à posse, à dádiva.

Tanto bater de asas frementes,

tanto grito e pena perdida...

E as tréguas, amor cobarde?

Cada vez mais longe,mais longe e apetecidas.

Ó amor, amor,que faremos nós de ti

e tu de nós?

Irene Lisboa

::



:: Sean Kennedy Santos...



:: Lipa...



:: Quero...


Quero saber
Quero saber se você vem comigo

a não andar e não falar,

quero saber se ao fim alcançaremos

a incomunicação;

por fim ir com alguém a ver o ar puro,

a luz listrada do mar de cada dia

ou um objecto terrestre e não ter nada

que trocar por fim, não introduzir mercadorias

como o faziam os colonizadores

trocando baralhinhos por silêncio.

Pago eu aqui por teu silêncio.

De acordo, eu te dou o meu com uma condição:

não nos compreender

Pablo Neruda

lunedì

:: O meu...



O meu amor é meu e eu sou dele.

O linho horizontal é nossa casa

e eu me aninho a dormir sob sua asa;

amo-o com minha boca e minha pele.

Ele é quem vela e não me diz que vele

porque sua é a chama e minha a brasa.

O seu fervor ao meu fervor se casa,

clara coma de luz que nos impele.

Desci ao campo raso: ele é meu campo

onde me deito e a erva se derrama;
é meu olhar que voa, pirilampo.
Sem terra irei por terra;
ele me chama
Vou, sem saber por onde,
ao mar ou monte.
Sem sua boca eu já não sei ser fonte.
Renata Pallottini

:: Biljana Djurdjevic...


:: Wonderlost...


::

:: Rosas para quem eu Amo!!!...

domenica

:: Flor para quem me Visita!!! Voltarei mais Tarde!!!...












Não tenho mais visões, não tenho obsessões,
sigo a trompete apenas, a ternura
é esse outro lado das coisas em que me perco
porque nada mais me chama e nada mais
revejo no lentíssimo torpor que pelas veias
senti outrora num azul imenso
que mais do que tocar-me me esvaía
no inferno do mundo e em seus ramais
de pura nostalgia, tristeza e desencanto.
Só ergo agora a voz para esquecer
e ter o olhar toldado para as coisas
que como grito lancinante escuto no silêncio
enquanto outras vozes me chamam,
outros indícios me vêm perturbar
quando pressinto a noite antíquissima
em que se esconde o sobressalto da serenidade
do meu tempo.
Nem já a sombra aguardo
ou o sentido destes brilhos espessos,
estas chamas que consomem o meu corpo
e a minha alma no mistério de tudo
e no liminar enigma que a
densa nos outros
os sentidos, certa atenção venal, um desespero
que em fumos e rastros me pergunta
por esta vida que já não é minha
e no coração recebo como salvação e ruína.
Sigo a trompete, o subtil sinal da despedida.
Só ergo agora a voz para esquecer.
Amadeu Baptista









Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.
Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.
Fazer amor é um dizer(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.

Thiago de Mello

:: Biliana Rakocevic...




Juntos, em solitude.
Cada qual com sua chaga.
Cada qual com sua cruz.
Dois corpos antes tão próximos,
separados pela geografia
que a mágoa desenha.
Entre os braços,interpõem-se
desertos,salinas e dunas.
O amor morreu?
Não. Condensou-se.
Soterrou-se em veios
de duro e negro minério.
Duas árvores cujas raízes
trançaram-se rumo ao fundo.
Que frutos falhos e ásperos
nessas mãos antes tão íntimas,
que, mesmo durante o sono,
permanecem bem fechadas.
Donizete Galvão