domenica

== Mu.lher(es)



Disseste-me para fechar os olhos e pedir um desejo, e eu
respondi Veneza.



Perguntaste-me porquê e eu disfarcei: " É a cidade dos
teatros, do Carnaval e das paixões desenfreadas do
Casanova:" Mas não te disse o principal, que já lá tinha
estado, há alguns anos em lua-de-mel com o César.






Nós, mulheres, gostamos de saber tudo a respeito dos
nossos homens, incluindo pormenores sórdidos, enquan-
to vocês dispensam conhecer o passado das vossas mulhe-
res.





Foi só por isso Vasco, que não te contei. Ficamos instala-
dos no Hotel Mónaco, no coração da cidade, num edifício
de pedra do século XVII, com vista para a igreja de Santa
Maria Della Salute e para a ilha de San Giorgio. Um esplen-
dor com noventa e nove quartos, mobiliário assinado e uma
ponte sobre o canal. O nosso, aquele em que tu e eu estive-
mos, era mais modesto. Chamava-se Al Sole e, apesar de mais
antigo, os quartos não eram bons.





Na verdade custa cerca de metade do outro, onde estive em
lua-de-mel.
Fizemos o mesmo programa, por coincidência, mas o senti-
mento com que recolhi ao quarto, nas duas noites, foi diferen-
te. Jantei com ele na Trattoria Alla Colonna, no Largo Pescheria
Vecchia, e contigo na Cantina do Mori, numa rua com o mesmo
nome. Comemos "francobollo" lembras-te?






Estavas tão feliz como ele, uns anos antes. Mas enquanto ele só
teve olhos para mim, tu levaste o jantar inteiro a olhar as mulhe-
res à tua volta. Se fosse hoje, acredita, tinha perdoado.
Um homem que não se inquieta perante a beleza é, por outro
lado suspeito.




Mas jantar a contemplar o dessassossego foi outro dessassossego.
Estavas ali, com outra mulher que dizias amar, numa cidade
mágica. Foi depois de voltarmos que resolvi falar ao César para
destruir o seu segundo casamento. De repente, tudo o que eu queria
era voltar a ser amada como ele me amou, na primeira noite.




Agora estás sozinho e eu aqui, de novo em Veneza, a escrever-te
esta carta para te dizer que me hospedei, com o César, no mesmo
hotel em que estive contigo.




Ontem fomos jantar à Trattoria e recomendei-lhe os "francobollos"
de que tanto gostaste. Nem lhes tocou, acreditas?






Só teve olhos para mim e para me dizer que me amava, enquanto eu,
estúpida, estive sempre distraída a pensar em ti.










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