mercoledì

== Bailarinas...





Dez bailarinas deslizam



por um chão de espelho.



Têm corpos egípcios com placas douradas,



pálpebras azuis e dedos vermelhos.






Levantam véus brancos, de ingênuos aromas,



e dobram amarelos joelhos.



Andam as dez bailarinas



sem voz, em redor das mesas.






Há mãos sobre facas,



dentes sobre flores



e com os charutos toldam as luzes acesas.









Entre a música e a dança escorre



uma sedosa escada de vileza.



As dez bailarinas avançam



como gafanhotos perdidos.



Avançam, recuam, na sala compacta,



empurrando olhares e arranhando o ruído.









Tão nuas se sentem que já vão cobertas



de imaginários, chorosos vestidos.



A dez bailarinas escondem



nos cílios verdes as pupilas.



Em seus quadris fosforescentes,



passa uma faixa de morte tranqüila.









Como quem leva para a terra



um filho morto,



levam seu próprio corpo,



que baila e cintila.



Os homens gordos olham com



um tédio enorme



as dez bailarinas tão frias.









Pobres serpentes sem luxúria,



que são crianças,



durante o dia.



Dez anjos anêmicos,



de axilas profundas,embalsamados



de melancolia.



Vão perpassando como dez múmias,



as bailarinas fatigadas.



Ramo de nardos inclinando flores



azuis, brancas, verdes, douradas.



Dez mães chorariam, se vissem



as bailarinas de mãos dadas.



Cecília Meirelles