domenica

== Como...



Como se o teu amor


tivesse outro nome no teu nome,


chamo por ti;


e o som do que digo é o amor


que ao teu corpo substitui


a doçura de um pronome


- tu, a sílaba única de uma eclosão de flor.
Diz-me, então, por que vens ter comigo


no puro despertar da minha solidão?


E que mumúrio lento de uma cantiga de amigo


nos repete o amor numa insistência de refrão?
É como se nada tivesse para te dizer


quando tu és tudo o que me habita os lábios:


linguagem breve de gestos sábios


que os teus olhos me dão para beber.
in «Poesia Reunida 1967-2000»


Nuno Judice