sabato

:: Que estou Só...









Bem, hoje que estou só e posso ver

Com o poder de ver do coração

Quanto não sou, quanto não posso ser,

Quanto se o for, serei em vão,
Hoje, vou confessar, quero sentir-me

Definitivamente ser ninguém,

E de mim mesmo, altivo, demitir-me

Por não ter procedido bem.
Falhei a tudo, mas sem galhardias,

Nada fui, nada ousei e nada fiz,

Nem colhi nas urtigas dos meus dias

A flor de parecer feliz.
Mas fica sempre, porque o pobre é rico

Em qualquer cousa, se procurar bem,

A grande indiferença com que fico.

Escrevo-o para o lembrar bem.

Fernando Pessoa