sabato

:: Surpresa...


E fala aos constelados céus
De trás das mágoas e das grades
Talvez com sonhos como os meus ...
Talvez, meu Deus!,
com que verdades!
As grades de uma cela estreita

Separam-no de céu e terra...
Às grades mãos humanas deita
E com voz não humana berra...
Fernando Pessoa









Dá a surpresa de ser.

É alta, de um louro escuro.

Faz bem só pensar em ver

Seu corpo meio maduro.
Seus seios altos parecem

(Se ela tivesse deitada)

Dois montinhos que amanhecem

Sem Ter que haver madrugada.
E a mão do seu braço branco

Assenta em palmo espalhado

Sobre a saliência do flanco

Do seu relevo tapado.
Apetece como um barco.

Tem qualquer coisa de gomo.

Meu Deus, quando é que eu embarco?

Ó fome, quando é que eu como ?

Fernando Pessoa