martedì

:: Ouve...


Ouve, meu anjo:

Se eu beijasse a tua pele?

Se eu beijasse a tua boca

Onde a saliva é mel?

Tentou, severo, afastar-se

Num sorriso desdenhoso;

Mas aí! A carne do assasssino

É como a do virtuoso.

Numa atitude elegante,

Misterioso, gentil,

Deu-me o seu corpo doirado

Que eu beijei quase febril.

Na vidraça da janela,

A chuva, leve, tinia...

Ele apertou-me cerrando

Os olhos para sonhar

- E eu lentamente morria

Como um perfume no ar!


António Botto